O quanto você se cobra e o quanto você fica orgulhosa do seu trabalho? Começo com essa pergunta que deveria ser algo para eu lembrar todos os dias. Muito frequentemente tenho a sensação de que faço muito pouco e que não estou avançando. Acho que procrastino muito (e procrastino mesmo), mas esqueço completamente todas as outras coisas que faço, que produzo e que já alcancei até aqui.
Ser autônoma não é nada fácil. Principalmente se você não for herdeira e não tiver incentivos financeiros que facilitem o caminho. Isso não é uma crítica a herdeiros e sim um "quem me dera". Mas o problema é que eu costumo me comparar com essas pessoas e achar que eu deveria estar em lugares que eu ainda não estou. Que eu deveria já estar colhendo frutos que eu ainda não colhi. A verdade é que eu queria pular etapas para chegar nesses lugares.
Eu sou uma grande reclamona, afinal a vida é bem reclamável. Mas hoje depois de um dia meio esquisito e que estava com várias dificuldades criativas e burocráticas, eu consegui produzir algumas coisas que olhei e falei “cara, eu sou boa nisso”. E eu pensei: quer saber, quero olhar para as coisas legais que tenho feito e sentir orgulho.
Quero sentir orgulho por ter coragem de fazer o que faço. Quero sentir orgulho por tantos relatos positivos que recebo de mulheres que estão descobrindo o prazer, ou redescobrindo. Como foi o caso de uma mulher que ficou viúva há um ano e me mandou uma mensagem dizendo que eu tenho ajudado ela a se lembrar de que está viva e que ela pode se redescobrir como mulher.
É por essas e outras que eu escolho todo dia fazer o que faço. Eu tenho me permitido falar mais desse orgulho que tenho sentido do meu trabalho. No off e no ouvido do meu marido, eu continuo morrendo de medo boa parte do tempo de não dar certo e de estar no caminho errado. Mas tenho me permitido falar em diferentes locais sobre o lado bom do meu trabalho e como falar de prazer e sexualidade muda a vida das pessoas para que, quando eu estiver me sentindo perdida, eu possa olhar e ver que estou traçando meu caminho pra chegar onde eu quiser. Não importa quanto tempo ele demore.
Confesso que a parte mais difícil de sentir todo esse orgulho é quando eu me esqueço que aquele vídeo que eu me esforcei horrores e achei o máximo, apesar de não ter alcançado tantas views quanto eu gostaria, alguém viu e se identificou com aquilo. O tal do algoritmo e do alcance é difícil de lidar e não tem como esquecer, mas eu sei que eu preciso olhar para além disso. Talvez seja por isso que eu amo tanto eventos presenciais. Sinto que é ali onde consigo me conectar com as pessoas e falar abertamente sobre prazer, sobre sexo e os inúmeros tabus existentes. Até porque no Instagram e Tiktok eu tenho que falar de s3x0, s3xualidade. Tudo cifrado para ninguém saber do que se trata. Ranço.
Comecei sentindo orgulho e vou terminando sentindo raiva. Lembrei que meu trabalho é constantemente censurado, mas todo dia eu tô ali, de pouquinho em pouquinho eu vou traçando meu caminho para chegar onde quero.
